domingo, 18 de fevereiro de 2007

Reflexões

Será que o mundo se resume a tudo isso, que cabe em tão fino papiro?
E quem entende minhas palavras senão eu mesma? Porque a certeza de certos senhores me assusta ás vezes, e são verdades tão límpidas, segredos ínfimos de meu ser, que eu me pego descobrindo que, afinal, não sou tão original assim. Os meus segredos são cantados; minhas frases feitas, das quais tanto me vangloriei, são clichês, e o meu mundo se resume a isso: uma repetição de idéias.
Não sou tão única assim; isso que estou sentindo agora, milhares de pessoas já sentiram antes de mim. E eu, em meu cubículo de vidro criado por mim mesma, continuo me achando especial, sem saber que sou mais uma. Apenas mais uma em um mundo de espelhos, onde a originalidade é vista com descrença.
Vejo-me descrita em um livro; leio uma estória diferente de minha vida. Sou eu, sou eu sim, em toda a minha simplicidade. Converso comigo mesma, descubro que sou bem normal -e, quem sabe, até simpática. Assisto poses que nunca fiz; leio frases que nunca pronunciei; vejo acontecimentos que nunca vivi, mas cada gesto, cada palavra, cada segundo fazem parte de mim, como se, em meus sonhos, eu já os tivesse vivido.
E vou assim, seguindo com meus livros e meus cadernos, escrevendo tudo que sei que já está escrito; lutando arduamente contra a minha própria essência de me achar superior apenas porque eu continuo a crer que sou diferente, que sei mais que você.
Pois eu não sei, e o reconhecimento de um mundo igual, ao mesmo tempo que me deslumbra, me assusta, pois eu não quero ser mais uma; eu não quero ser a repetição de meus pais, não quero viver nesse ciclo vicioso. Eu quero ser EU, independente de quem eu seja, independente do que você acha de mim.
E pode crer que não vou lhe julgar - ou talvez eu lhe julgue, mas não lhe direi.