quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Réverie

Aquela sala. Tudo tão iluminado, mas não tão nítido assim. É como se houvesse uma névoa. Como se minhas memórias tivessem se transformado em sonho.
O sol alto no céu por trás da grande janela.
Um piano ocupando uma parede, escuro. As notas cristalinas como gotinhas de água.
É assim que imagino as notas em minha mente, gotinhas de água muito transparentes e muito brilhantes, pingando não sei onde. A primeira vez que pensei nisso foi quando eu era muito pequena e eu e minha irmã estávamos checando algum cd-rom quando "Clair de Lune", de Claude Debussy, começou a tocar. Depois disso, não consigo pensar em outra coisa: cada nota é uma gotinha. Uma valsa é chuva , uma berceuse é um leve chuvisco... Beethoven sempre foi tempestade, independente da velocidade da música. Mas Debussy é aquele que me faz imaginar as gotinhas mais delicadas e cristalinas.
E é assim, como em sua "Réverie"; é em devaneios que me perco ao pensar naquela sala. E eu estou lá também, sentada no chão, olhando para a janela. Imóvel. Estranhamente, me imagino com o uniforme da escola. E estranhamente penso que estou pensando em ir embora. Como eu sempre fiz. Ir embora quando as pessoas começam a me conhecer a ponto de saber meus defeitos. Ou ir embora para evitar esse contato tão íntimo que sempre temi. Naquela sala, estou pensando em ir embora para ser outra pessoa. Estou indo embora porque estou fugindo daqueles que me fazem ter medo ao se aproximarem demais de mim.
E eu penso na frase estonteante dele. E penso no olhar reprovador dela. Ele me ama, mas não teve a coragem de dizer na minha frente. Ela me ama e teve a coragem de me mostrar friamente todos os meus segredos desvendados...

Fugi disso tudo. De um louco e de uma amiga. Fugi também da minha família e das gotas cristalinas do meu piano. Mas não virei outra pessoa ao fugir, bem como também perdi os escapes que eu tinha. Não tem como eu ir embora agora. Acho que, enfim, fui obrigada a enfrentar os meus medos.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

My hands are not cold


I`m just too proud, that`s the problem...

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Chapter LX

"How could you begin?'' said she. "I can comprehend your going on charmingly, when you had once made a beginning; but what could set you off in the first place?''
"I cannot fix on the hour, or the spot, or the look, or the words, which laid the foundation. It is too long ago. I was in the middle before I knew that I had begun.''
"My beauty you had early withstood, and as for my manners -- my behaviour to you was at least always bordering on the uncivil, and I never spoke to you without rather wishing to give you pain than not. Now be sincere; did you admire me for my impertinence?''
"For the liveliness of your mind, I did.''
"You may as well call it impertinence at once. It was very little less. The fact is, that you were sick of civility, of deference, of officious attention. You were disgusted with the women who were always speaking, and looking, and thinking for your approbation alone. I roused, and interested you, because I was so unlike them. Had you not been really amiable, you would have hated me for it; but in spite of the pains you took to disguise yourself, your feelings were always noble and just; and in your heart, you thoroughly despised the persons who so assiduously courted you.''
Pride & Prejudice

sábado, 14 de abril de 2007

Eu sim.

Sabes aquele vazio que ás vezes tu sentes?
Aquele peso enorme em teu peito?
Sabes aquela sensação de que nada dá certo?
Aquele sentimento de fracasso?
Sabes quando te sentes inútil?
Quando sentes que não faria diferença no mundo?
Sabes que nada te parece certo?
Que nada que faças possa mudar algo?
Sabes como vai ser o resto de sua vida?
Como tudo é programado?


eu não.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Essência

Hoje eu fui justamente a pessoa que eu quero ser -ou sou quando estou sozinha. Fui simpática e amável, fiz comentários inteligentes, defendi meu ponto de vista sem ser rude ou arrogante, recebi elogios sem ter forçado nada, fui atenciosa a todos. E sabe o que é melhor nisso tudo? É que não foi forçado; foi algo espontâneo. Eu fui eu mesma -e talvez eu tenha sido um pouco mais Lizzie Bennet do que eu pensei que fosse. Eu continuei a mesma Clara determinada em suas idéias, que ainda acredita em um Brasil melhor, que não precisa e nem acredita em um ser superior -mas que não deixa de respeitar as opiniões alheias - e que acha que comer algo que já sentiu é algo impensável.
Espero ser essa pessoa para sempre.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Reflexões

Será que o mundo se resume a tudo isso, que cabe em tão fino papiro?
E quem entende minhas palavras senão eu mesma? Porque a certeza de certos senhores me assusta ás vezes, e são verdades tão límpidas, segredos ínfimos de meu ser, que eu me pego descobrindo que, afinal, não sou tão original assim. Os meus segredos são cantados; minhas frases feitas, das quais tanto me vangloriei, são clichês, e o meu mundo se resume a isso: uma repetição de idéias.
Não sou tão única assim; isso que estou sentindo agora, milhares de pessoas já sentiram antes de mim. E eu, em meu cubículo de vidro criado por mim mesma, continuo me achando especial, sem saber que sou mais uma. Apenas mais uma em um mundo de espelhos, onde a originalidade é vista com descrença.
Vejo-me descrita em um livro; leio uma estória diferente de minha vida. Sou eu, sou eu sim, em toda a minha simplicidade. Converso comigo mesma, descubro que sou bem normal -e, quem sabe, até simpática. Assisto poses que nunca fiz; leio frases que nunca pronunciei; vejo acontecimentos que nunca vivi, mas cada gesto, cada palavra, cada segundo fazem parte de mim, como se, em meus sonhos, eu já os tivesse vivido.
E vou assim, seguindo com meus livros e meus cadernos, escrevendo tudo que sei que já está escrito; lutando arduamente contra a minha própria essência de me achar superior apenas porque eu continuo a crer que sou diferente, que sei mais que você.
Pois eu não sei, e o reconhecimento de um mundo igual, ao mesmo tempo que me deslumbra, me assusta, pois eu não quero ser mais uma; eu não quero ser a repetição de meus pais, não quero viver nesse ciclo vicioso. Eu quero ser EU, independente de quem eu seja, independente do que você acha de mim.
E pode crer que não vou lhe julgar - ou talvez eu lhe julgue, mas não lhe direi.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

And you?

Não tão inteligente;
Não tão simpática;
Não tão brilhante;
Não tão amável;
Não tão realista.

Tão contestadora quanto;
Tão honesta quanto;
Tão rebelde quanto;
Tão afiada quanto;
Tão orgulhosa quanto.

afinal, ninguém é perfeito :)